quarta-feira, 26 de agosto de 2009

refrexão

Um ser puro pode nem ao menos se dá conta de que ainda não está liberto, que vive apenas uma condição inerente ao mundo de ilusão. Quando se torna um ser cientificado ele já sabe que vive numa ilusão, e que pode sair dela, mas mesmo assim ele pode não querer sair dela. O querer é soberano, por isso, mesmo ciente da ilusão do mundo, o ser, mesmo cientificado, pode não querer si libertar, ou seja voltar ao estado de Ser.

Citações famosas sobre a vida e o homem

O homem sábio deve recusar a cólera, o orgulho, a decepção, a inveja, o amor, o ódio, a desilusão, a concepção, o nascimento, a morte, o inferno, a existência animal, e a dor.
Jaina Sutras, Acaranba Sutra, textos religiosos indianos do século VI a. C., e depois 

Não interrogues o silêncio porque ele é mudo; não esperes nada dos deuses, através de preces, nem tentes suborná-los com oferendas, pois é em nós próprios que devemos procurar a libertação.
Buda, séc. V a. C., citado por E. Morin, O Homem e a Morte

Aquele que procura a felicidade, deve extirpar de si a flecha da aflição, do desejo, do desespero.

Pali Tripitaka, colecção budista de textos sagrados, Dhammapada   

A maior das vitórias é a vitória sobre nós mesmos.
Pali Tripitaka, colecção budista de textos sagrados, Dhammapada   

A mente do homem perfeito é como um espelho. Ele não distorce a sua resposta às coisas. Ele responde às coisas mas não penetra na sua existência. Deste modo ele pode lidar com essas coisas sem se magoar.
Tchuang-Tseu, filósofo chinês ligado ao taoismo, século III ou II a. C., Book of Tchuang-Tseu 

Não queiras ser famoso. Não queiras ser um armazém de regras. Não queiras apreender a função das coisas. Não queiras ser o mestre do conhecimento que manipula.

Tchuang-Tseu, filósofo chinês ligado ao taoismo, século III ou II a. C., Book of Tchuang-Tseu 

Procura compreender o mais algo degrau das coisas, viajando a um nível em que não há sinais, exercitando plenamente o que recebeste da natureza, negando tudo o que há de pessoal e subjectivo em ti. Numa palavra: procura o vácuo sem ideias.
Tchuang-Tseu, filósofo chinês ligado ao taoismo, século III ou II a. C., Book of Tchuang-Tseu 

Médio Oriente e tradição grego-romana
Citações famosas sobre a vida e o homem

A produção de pensamentos existenciais é bastante variada e rica no mundo antigo, nomeadamente no grego e romano.
Ao contrário do que aconteceu no Oriente, essas civilizações não advogaram o vácuo de pensamentos, antes viram na nossa razão a chama da nossa dignidade.

Tudo é insignificante, facilmente mutável, tudo se apaga.
Marco Aurélio, 121-180, imperador e filósofo romano, Pensamentos

A vida é uma campanha, uma breve estada numa região estranha.
Marco Aurélio, 161-189 d. C., imperador e filósofo romano, Pensamentos

Imortais mortais, mortais imortais, que vivem a sua morte e morrem a sua vida.
Heraclito, 540-480 a. C., filósofo grego, Da Natureza 

A vida é uma criança a jogar e a deslocar as peças do tabuleiro.
Heraclito, 540-480 a. C., filósofo grego, Da Natureza 

Não vivemos como queremos, mas como podemos.
Terêncio, 190-159 a.C., poeta romano, The Lady of Andros 

Uma vida não questionada, não merece ser vivida.
Sócrates, 470-399 a. C., filósofo grego, em Apologia, Platão

Vejo o melhor, e aprovo; mas sigo o pior.
Ovídio, 43-17 d. C, escritor romano, Metamorphoses 
O nosso sucesso, e o sucesso dos nossos planos e da nossa vida, tem pouco a ver com méritos, antes depende dos deuses, que guardam para si o direito de decidirem os seus resultados.
Amiano Marcelino, 330-395, historiador romano, Annales

Goza a vida com a mulher que amas, durante os fugazes dias da existência que Deus te concede debaixo do Sol.
Bíblia, Eclesiastes


O futuro não depende totalmente da nossa vontade, nem é totalmente alheio a ela; não o esqueças, para que não tomes como uma fatalidade o que ainda não aconteceu, nem como impossível de concretizar aquilo que mais desejas.
Epicuro, 341-270 a.C., filósofo grego, Carta a Meneceu 

A vida do louco é vazia de gratidão e cheia de medos, toda ela construída sobre os fantasmas do futuro.
Epicuro, 341-270 a.C., filósofo grego, Carta a Meneceu 

Aquele que pensa que aquilo que tem é suficiente, é um homem infeliz, ainda que seja o dono do mundo inteiro.
Epicuro, 341-270 a.C., filósofo grego, em Epístolas a Lucílio, de Séneca


Toda a vida é uma luta no escuro. (…) Ao fim de algum tempo, é aqui na Terra que a vida dos tontos se torna num inferno.
Lucrécio, 98-55 a.C, poeta e filósofo romano, De rerum natura

O segredo da felicidade

Cristo, em sua vida de pregador e andarilho pela sua terra e outras, foi desdobrando o segredo que Ele trazia do seu Pai, através de parábolas, fatos e grandes discursos.

Quando chegou a sua hora, Ele se desdobrou na amizade. E no discurso de despedida diz aos seus amigos apóstolos: "Revelei tudo o que o Pai mandou dizer e o que vocês não entenderam o Espírito Santo há de completar. Já que vos dei todos os segredos, já vos chamo de amigos".

Amigo é uma palavra muito abrangente. Jesus, provando a sua amizade, lava os pés de seus discípulos e faz a primeira Celebração Eucarística. "O servo não sabe o que faz, nem o que quer o seu senhor, e vós sabeis".

A Deus só agrada o que se Lhe dá com alegria e por isso mesmo Jesus diz: "Eu vos digo essas coisas, para que tenhais a plenitude da minha alegria". Mas depois de nos ter chamado de amigos, mandou: "amai-vos uns aos outros como eu vos amei".

Quando poderemos sequer chegar perto da semelhança do amor de Cristo? O Padre Zezinho em um de seus felizes cantos disse que a primeira coisa para ser feliz é "amar como Jesus amou". O segredo da felicidade é amar como Jesus amou.
Seu último gesto de amor foi pedir perdão ao Pai por nós.

"Amar como Jesus amou" é uma ordem. E creio que nossa felicidade se mede na razão do amor que dedicarmos uns aos outros, a começar de casa, na Igreja, no clero... E daí nasce verdadeiramente o espírito eclesial. Vai nascer a própria Igreja.

Não é possível conceber a Igreja sem esse ponto culminante que é a Eucaristia.

Eu vejo tantas organizações boas, grupos de juventude, apostolado da oração. Tudo isso, se for inspirado pelo amor à Igreja e estiver centrado na Eucaristia, tem consistência.

Concentre-se bem para ver se realmente existe amizade entre nós e Jesus na Eucaristia, tão misticamente silencioso que nos deixa falar para que possamos externar toda a nossa tristeza, alegria ou esperança.

Uma freira foi mandada para outra comunidade e fez um drama tão grande que outra freira, disse a ela: "Oh, irmã, naquela casa não tem Sacrário, não? Se tem Missa e Sacrário por que o drama?"

Se Cristo está no centro do domingo e na inspiração de tudo o que fazemos, nós jamais poderemos nos sentir infelizes pelas coisas que a vida nos faz passar.

Parabéns a vocês, queridos florianapolitanos e brasileiros que podem dizer: "Eu vi o Cristo ali presente em cada um deles" e "amar como Jesus amou".

O discípulo nasce do encontro

A atual cultura assim chamada adveniente ou pós-moderna – que no entanto não deixa de ser substancialmente moderna - se caracteriza por seu desencanto com muitos dos resultados do iluminismo da modernidade, em especial com as grandes ideologias, filhas da modernidade, como foram o nazismo/fascismo e o comunismo, que, depois de desencadearem guerras e revoluções de extrema violência e devastadora crueldade e desumanidade para imporem seu respectivo sistema sócio-econômico-político, felizmente fracassaram e caíram. Mas a pós-modernidade se decepciona também com o liberalismo capitalista, outro filho da modernidade, ainda vigente, que não consegue cumprir suas promessas de vencer a pobreza no mundo, mas, ao contrário, explora desumanamente os pobres e os exclui da nova ordem econômica mundial globalizada.

Por outro lado, estas ideologias constituíam uma espécie de coletivos, por vezes mundiais, que cooptavam grandes multidões, que a eles se filiavam, tornavam-se seus militantes ou neles confiavam e com eles colaboravam. Para essas multidões cooptadas, essa sua respectiva ideologia, ou partido nascido da ideologia, significava esperanças concretas de futuro mundo melhor e assim dava sentido a suas vidas e à sua atuação na sociedade. Eram grandes coletivos que davam suporte a milhões e milhões de pessoas. Essas se sentiam fazendo parte deste coletivo escolhido e de seu destino. As pessoas diziam com convicção, quando não com arrogância e prepotência: "sou marxista, sou comunista, sou fascista, sou nazista, sou deste ou daquele partido político". Mas agora, tendo caído estas ideologias, as pessoas vêem-se de repente sozinhas, órfãs, diante da vida, sem projeto e sem companheiros. Que sentido dar a suas vidas a partir de agora?

Esta situação das pessoas que antes tinham um coletivo ideológico, do qual faziam parte e que dava sentido a suas vidas e do qual agora foram privadas, constitui um dos aspectos da pós-modernidade. Nasceu então um grande desencanto e um recolher as bandeiras. Grande número das pessoas perderam o sentido de sua vida e agora tentam reconstruir sozinhas, num individualismo decepcionado, algum sentido, o que contribui para o crescimento do desinteresse político de muitos, do ceticismo, relativismo e agnosticismo no mundo das idéias, do consumismo desenfreado na vida quotidiana, do cinismo diante da vida, do "cuide cada um de si mesmo", da corrupção na política e portanto da desvalorização da ética. O tecido social se esgarçou e a fragmentação da sociedade cresceu, com a conseqüência do desgaste das grandes instituições públicas, incluídas as grandes religiões. É bom acrescentar que esse processo atingiu e atinge em especial a cultura ocidental, onde a modernidade nasceu e se desenvolveu.

É neste contexto que hoje a sociedade consumista oferece também uma espécie de supermercado de religiões, principalmente nas áreas urbanas, onde os indivíduos isolados e decepcionados ou céticos, até mesmo com sua própria religião, buscam novos refúgios e novos coletivos. E vice-versa, muitas religiões ou igrejas, especialmente as de origem mais recente, vão em busca dessas pessoas isoladas, de todas as classes sociais, que se sentem sem amparo e sem rumo, mas sobretudo nas grandes periferias urbanas pobres, onde além da falta de um claro objetivo para suas vidas as pessoas e famílias sofrem sozinhas toda sorte de carências, como falta de trabalho, de escola, de saúde, de moradia, chegando a passar fome e miséria extrema. Essas religiões, aqui entre nós principalmente as chamadas igrejas de crentes ou evangélicas-pentecostais e neo-pentecostais, vão ao encontro dessas pessoas, de todas as classes sociais, mas, repito, sobretudo das pessoas pobres, e procuram levá-las a suas comunidades, aos seus coletivos. Vão visitar as famílias, fazem um encontro com as pessoas e assim convertem a muitos. Note-se que aqui o fator "encontro com as pessoas" é decisivo.

De fato, o discípulo nasce do encontro. Encontrar as pessoas e levá-las a ter um encontro forte e pessoal com Jesus Cristo. Este é o caminho da missão, que Jesus entregou aos seus apóstolos e a nós, bispos, hoje, quando disse: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura. Aquele que crer e for batizado será salvo”(Mc 16,15-16); "fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28,19). Nos Evangelhos vemos como o próprio Jesus converte as pessoas em discípulos seus através de encontros fortes com elas.

Como primeiro exemplo podemos tomar Jo 1,35-51, em que se narra como ocorre a adesão dos primeiros discípulos de Jesus. Jesus havia sido batizado por João, no rio Jordão. No dia seguinte, João Batista estava de novo ali com dois de seus discípulos. Acontece que também Jesus naquele momento passou novamente por lá. João ao vê-lo, o proclamou, dizendo: "Eis o Cordeiro de Deus". Ouvindo isso, os dois discípulos de João Batista se aproximam de Jesus e lhe perguntam: "Onde moras?". Disse-lhes Jesus: "Vinde e vede". Eles então foram com Jesus, viram onde morava e permaneceram com Ele o resto do dia.

Foi um encontro pessoal muito forte dos dois com Jesus. Um encontro que Jesus espera que também nós, bispos, façamos e renovemos, um encontro forte e pessoal com Ele, para renovar nosso discipulado.Um encontro face a face, de tu a tu. De fato, os dois discípulos de João que se encontraram com Jesus, deixaram-se atrair e envolver pessoalmente. Saíram deste encontro transformados, iluminados, entusiasmados. Haviam-se deixado alcançar por Jesus e este os havia impressionado intensamente. Eles creram em Jesus. Aderiram a Ele com todo seu ser. Tinham a certeza de que este era o enviado de Deus, o Messias prometido, e isto os fazia vibrar de emoção e alegria espiritual. Estavam prontos a segui-lo e investir tudo nele. Ele seria daqui para frente seu Mestre e seu caminho, sua certeza e sua felicidade. Tornaram-se seus discípulos, para nunca mais o deixarem. Como o apóstolo Paulo dirá mais tarde, também eles podiam dizer: "Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, os perigos, a espada? ... Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem os poderes, nem a altura, nem a profundeza, nem qualquer contra criatura poderá nos separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Rm 8, 35 e 38-39).

Essas também devem ser as palavras que devem brotar de nosso coração de bispos, quando nos encontramos com Cristo. Mas para isso é preciso sempre de novo deixar-nos alcançar por Ele, de coração aberto e disponível. Devemos poder dizer com o apóstolo Paulo: "Eu já fui alcançado por Cristo Jesus" (Fip 3,12).

O evento da adesão dos dois primeiros discípulos continua, narrando como eles saíram deste encontro para contar a seus companheiros tudo o que experimentaram e levá-los por sua vez a fazer um encontro com Jesus. Diz o texto que André era um dos dois. Ele saiu do encontro com Jesus e foi depressa procurar seu irmão Simão Pedro, para dizer-lhe ainda emocionado e feliz: "Encontramos o Messias". Esta afirmação simples e entusiasmada de André deve ter surpreendido profundamente Simão Pedro. Sim; toda Israel esperava o Messias há séculos. Os profetas de época em época lembravam isso ao povo. Mas agora, ouvir tão abruptamente da boca de seu irmão: “Encontramos o Messias”, deve ter sido um abalo muito intenso. Pedro aceita ir com André para encontrar-se com Jesus. Ao chegarem, Jesus fita Pedro nos olhos e penetra todo o seu íntimo e depois diz: "Tu és Simão, filho de Jonas; chamar-te-ás Cefas (que quer dizer Pedra)".O encontro com certeza se prolongou. Ao saírem de junto de Jesus, Pedro e André haviam sido conquistados para sempre. Suas vidas daqui para frente mudariam totalmente. Serão discípulos deste Jesus, em quem reconheceram o Messias.


No dia seguinte, Jesus encontra Felipe, que – como diz o texto - morava na mesma cidade que Pedro e André. De novo se repete esta extraordinária transformação, que faz de Filipe mais um discípulo. E ele, também, assim como André fez com seu irmão Pedro, Felipe vai em busca de alguém que possa ouvi-lo e a quem possa transmitir a maravilhosa experiência, o forte encontro que mudou sua vida e seu futuro. Vai buscar Natanael e lhe diz: “Encontramos aquele de quem escreveram Moisés, na Lei, e os profetas: Jesus, o filho de José, de Nazaré”. Também Natanael se sente sacudido pela surpreendente declaração de Felipe e acaba indo com ele ao encontro de Jesus. Este o recebe com uma declaração que faz Natanael sentir-se imediatamente acolhido como se fosse um familiar, um conhecido e amigo. Jesus lhe diz: "Eis verdadeiramente um israelita em quem não há fraude". No transcorrer deste encontro, também Natanael se sente transformado, atraído e iluminado. Sente-se envolvido pessoalmente e percebe que Jesus o vincula a si para sempre. Natanael adere a Jesus e crê que este Jesus é o Messias prometido e exclama: "Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel"

Os Evangelhos trazem muitos exemplos destes encontros de Jesus com pessoas, que acabam crendo em Jesus, aderindo a ele totalmente, tornando-se seus discípulos e discípulas, capazes de investir toda sua vida nele e no seu Reino. Podemos citar os encontros com os irmãos Lázaro, Marta e Maria, de Betânia, os encontros com Nicodemos, com a Samaritana, com Maria Madalena, com Mateus (Levi), com o rico Zaqueu, e tantos outros. Em todos, ocorre aquela extraordinária transformação interior, a adesão, a fé, a prontidão em seguir Jesus e ser seu discípulo.

Mas quando faltavam certas condições de disponibilidade interior e de desapego, quando outros interesses de poder, dinheiro ou prestígio continuavam prevalecendo, o encontro não resultava em conversão, como aconteceu no caso do jovem rico, a quem o apego à riqueza impediu de seguir o Mestre. O inverso aconteceu com Zaqueu, que também era rico, mas se converteu, devolveu ao quádruplo tudo que havia adquirido ilicitamente e do que lhe sobrou deu a metade aos pobres. Mesmo um dos Doze, Judas Iscariote, nunca se converteu de verdade. João o acusa de ser ladrão. Alguns pensam que ele tinha outro projeto de poder e dominação, que não coincidia com o projeto de Jesus. Acabou traindo o Mestre e entregando-o para ser morto, recebendo em troca trinta moedas. Por fim, desesperado, enforcou-se.

Não podemos deixar de mencionar os encontros que ocorreram depois da ressurreição de Jesus Cristo. Esses encontros renovaram e aprofundaram a adesão dos discípulos e discípulas, os quais são então fortalecidos e consolidados na sua fé e discipulado com o dom do Espírito Santo. Lembremos os encontros de Jesus ressuscitado com Madalena e as outras mulheres, com Simão Pedro, com os apóstolos reunidos, com Tomé especialmente, com os dois de Emaus, com a multidão de discípulos reunidos na hora de sua ascensão ao céu e mais tarde com o apóstolo Paulo, no caminho de Damasco. Sempre de novo trata-se de encontros pessoais e agora também comunitários, ou seja, com a comunidade que Jesus fundara e agora se consolidara com sua ressurreição e o dom do Espírito Santo.

Jesus era o Deus invisível que se tornou visível no meio de nós. Era o Filho de Deus feito homem, com quem as pessoas que com ele conviviam podiam encontrar-se, como nós, pessoas humanas, nos encontramos entre nós. Contudo, o Antigo Testamento nos atesta muitos encontros que Deus concede a pessoas, principalmente àquelas às quais encarrega de uma missão especial. E hoje, como podemos fazer um encontro pessoal ou comunitário com Jesus Cristo, que já não está mais visivelmente entre nós?

Comecemos pelo Antigo Testamento. Dois encontros são centrais para a história de Israel, o povo eleito, e toda a revelação que consta no Antigo Testamento: o encontro com o patriarca Abraão e o encontro com Moisés na sarça ardente.

O grande encontro que mudou toda a vida de Abraão foi quando Deus o chamou para sair de Ur da Caldéia e ir para a terra que ele lhe indicaria e depois lhe daria em herança. “O Senhor disse a Abrão: ‘Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que te mostrarei. Eu farei de ti um grande povo, eu te abençoarei, engrandecerei teu nome: sê uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem, amaldiçoarei os que te amaldiçoarem. Por ti serão benditas todas as tribos da terra’. Abrão partiu, como lhe disse o Senhor”(Gn 12,1-4). Abraão acreditou em Deus e na sua promessa. Esta fé transforma toda a sua vida. Ele sai de sua terra, deixando para trás tudo o que até agora tinha sido sua vida. Esta fé lhe é imputada em justiça. Ele é o pai de todos os crentes no Deus único e verdadeiro. A partir daí, Abraão caminhará pela vida com quem vê o invisível.

Após este encontro de Abraão com o Senhor Deus, outros acontecerão através de sua longa vida de migrante do Senhor, escolhido para ser pai de um novo povo, um poço que Deus haveria de escolher como seu povo eleito, do qual nasceria o Salvador de todos os povos. Por isso, Abraão seria uma bênção para todos: “em ti serão abençoadas todas as tribos da terra”.

Dentre os muitos encontros de Abraão com o Senhor, convém destacar aquele junto ao Carvalho de Mambré, quando lhe apareceram três homens e neles Abraão reconhece o Senhor. Diz o texto do Gênesis: “O Senhor lhe apareceu no Carvalho de Mambré, quando ele estava sentado na entrada da tenda, no maior calor do dia. Tendo levantado os olhos, eis que viu três homens de pé, perto dele; logo que os viu, correu da entrada da tenda ao seu encontro e se prostrou por terra. Ele disse: ‘Meu Senhor, eu te peço, se encontrei graça a teus olhos, não passes junto de teu servo sem te deteres. Traga-se um pouco de água e vos lavareis os pés, e vos estendereis sob a árvore” (Gn 18,1-4). São três os homens que lhe apareceram. Ele os trata uma vez no plural e outra no singular. Os três que, no entanto, são um. São o Senhor. Abraão oferece-lhes uma refeição. Eles lhe anunciam que ele terá um filho. Mas Abraão e sua mulher Sara já eram velhos e por isso Abraão pergunta como isso será possível. Mas o Senhor lhe responde: “Há porventura algo impossível para o Senhor?” (Gn 18,14). E mais uma vez Abraão acreditou e de fato nascerá o filho Isaac.

Contudo, o encontro mais impressionante e decisivo de Abraão com o Senhor ocorreu quando este lhe manda sacrificar seu filho Isaac. Neste episódio dramático, conduzido unicamente pela lógica divina e profundamente estranho à lógica humana, a fé de Abraão é provada ao extremo. Mas ele permanece fiel até o fim. Por essa sua fidelidade Deus renova suas promessas, que deverão ser levadas depois em frente por Isaac, poupado pela intervenção do próprio Senhor que havia pedido seu sacrifício. Deus diz então a Abraão: “juro por mim mesmo, palavra do Senhor: porque me fizeste isto, porque não me recusaste teu filho, teu único, eu te cumularei de bênçãos, eu te darei uma posteridade tão numerosa quanto as estrelas do céu e quanto a areia que está na praia do mar, e tua posteridade conquistará a porta de seus inimigos. Por tua posteridade serão abençoadas todas as nações da terra, porque tu me obedeceste”(Gn 22,16-18).

Outro personagem fundamental da Bíblia é Moisés. Ele também teve seu encontro decisivo com o Senhor,, que o chamou para libertar seu povo da escravidão do Egito. Lemos no livro do Êxodo: “Apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Conduziu as ovelhas para além do deserto e chegou ao Horeb, a montanha de Deus. O Anjo do Senhor lhe apareceu numa chama de fogo, do meio de uma sarça. Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia. Então disse Moisés: ‘Darei uma volta, e verei este fenômeno estranho, por que a sarça não se consome’. Viu o Senhor que ele deu uma volta para ver. E Deus o chamou do meio da sarça: ‘Não te aproximes daqui; tira as sandálias dos pés porque o lugar em que estás é uma terra santa’. Disse mais: ‘Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. Então Moisés cobriu o rosto, porque temia olhar para Deus” (Ex 3,1-6). Então o Senhor num longo diálogo, denso de revelações, encarrega Moisés com a missão de libertar o povo hebreu da escravidão do Egito. Moisés sai deste encontro transformado, deixa seu sogro, e, confiante no Senhor, vai cumprir a difícil missão de libertar os hebreus.

E nós, como podemos hoje encontrar o Cristo Ressuscitado? O saudoso Papa João Paulo II, na Ecclesia in América (n.10), orienta como fazer o encontro com Jesus Cristo após sua ascenção ao céu, no tempo da Igreja, portanto, também hoje. Encontrar a Cristo é um dom de Deus e não simplesmente resultado de nossos esforços humanos. Na verdade, é Ele quem nos busca e nos amou primeiro. Ele bate à nossa porta. Mas somos nós que devemos acolhê-lo livremente. O apóstolo Paulo, por isso, diz com razão: “Eu já fui alcançado por Jesus Cristo” (Fip 3,12). Jesus Cristo o buscou e Paulo lhe abriu a porta.

Onde pode dar-se hoje este nosso encontro ou re-encontro? Digo re-encontro, pois devemos sempre de novo re-encontrar-nos. Reconstruir e consolidar nossa adesão de discípulos de Jesus Cristo. João Paulo II nos indica algumas situações privilegiadas, em que isso pode acontecer. Primeiro, na escuta da Palavra de Deus, seja ouvindo de novo a pregação do querigma fundamental, pois, como escreve Paulo: “a fé nasce da pregação” (Rm 10,17), seja lendo a Palavra de Deus. No caso de leitura, o papa recomenda o método da “lectio divina”. Trata-se de uma leitura orante, “à luz da Tradição, dos Santos Padres e do Magistério, e aprofundada através da meditação e da oração” (EIA,12). É uma leitura em vários passos: 1o. ler devagar, com atenção, como se fosse a primeira vez, para entender o quis dizer o texto, quando foi escrito; 2o. Meditar o texto, para descobrir o que o texto diz hoje a mim e ao mundo; 3o. A partir do que entendi do texto, colocar-me em oração e deixar o Espírito orar em mim; é o momento do encontro com Cristo; Ele me fará experimentar o amor com que Deus nos ama e nos amou primeiro; 4o. É contemplar o mistério de Deus e sentir-se envolvido pessoalmente com Deus, em Jesus Cristo, no Espírito Santo. Neste momento, não dizer muitas palavras, mas sim sentir-se diante de Deus e em Deus como seus filhos muito amados.

Outro lugar em que posso fazer o encontro com Cristo é na liturgia, diz João Paulo II, principalmente na Eucaristia. Ali Cristo está presente no celebrante que torna presente sobre o altar novamente, ainda que sacramentalmente, o Cristo que por amor ao Pai e a nós aceita morrer na cruz e ressuscita dos mortos para nos salvar da morte e de todo mal. Em conseqüência, também as visitas ao Santíssimo Sacramento, fora da Missa, são oportunidades excelentes de um encontro com Cristo.

Outro lugar de encontro é certamente a oração tanto pessoal como comunitária. A oração pode constituir-se em um tempo de profunda intimidade com Cristo e de compromisso em ser sua testemunha no mundo.

Outro lugar de encontro com Cristo, diz João Paulo II, são os pobres, nos quais Cristo quer ser identificado. Aliás, o amor aos irmãos, sejam de que classe social forem, é sempre uma forma de amar a Deus e unir-se a Jesus Cristo como discípulo. Ele mesmo disse: “Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35). Mas entre os irmãos, os pobres e sofridos de todo tipo devem ter a prioridade em nosso amor e solidariedade. Contudo, só veremos Jesus nos pobres, se tivermos conseguido construir um relacionamento pessoal muito forte e consciente com Cristo.


Termino lembrando que o discípulo nasce do encontro forte e pessoal com Cristo. É preciso que sempre de novo renovemos este encontro para consolidar-nos como discípulos seus. Contudo, os discípulos não vivem isolados, mas Cristo os reúne em comunidade, a partir da comunidade dos Doze Apóstolos. Assim, por sua vez os apóstolos, após a volta de Cristo ao Pai, quando fazem novos discípulos por sua pregação e testemunho, formam novas comunidades de crentes. Desse modo, o encontro com Cristo, na Igreja, deve também sempre acabar tornando-se um encontro comunitário. Façamos então nestas horas de retiro nosso re-encontro pessoal e também comunitário com Jesus Cristo, sobretudo na liturgia, para sentir-nos mais perto do Senhor e mais felizes de sermos por Ele amados e enviados em missão.

O mistério da ressurreição

todos nós a conhecemos muito bem. Veja que Jesus mesmo deu a explicação. Esta Palavra deve cair no terreno preparado, e nós precisamos ouvir, porque aqueles que estão pelo caminho o inimigo vem e lhes tira a Palavra. O inimigo quer nos tirar a Palavra para que não acreditemos e não sejamos salvos.

Cada um de nós devemos nos perguntar que terreno tem sido o nosso coração. Quantas vezes acolhemos a Palavra e acabamos voltando atrás. Jesus diz na parábola que aquelas sementes que caíram entre os espinhos foram sufocadas, enfim, somente as que caíram em terra boa permaneceram e deram bons frutos.

Meus irmãos, nós precisamos ser um bom terreno porque o que nos espera é a vida eterna, o que está em jogo é a nossa vida eterna.

Veja que na primeira leitura, São Paulo que era como um bandeirante, que ia a frente levando a Palavra de Deus, - e em Corinto onde ele ficou apenas seis meses - ele falou sobre a nossa ressurreição. Para São Paulo era difícil pregar a ressurreição porque o povo não entendia como o corpo ia ressuscitar. Paulo dizia: “Se Cristo não ressuscitou, então o que pregamos é mentira”. Mas não! Cristo ressuscitou como primícia dos que morreram, ele centraliza em Cristo, porque lá no céu já está também um outro corpo, o corpo de Maria que foi arrebatada para o céu. Assim compreendemos a nossa união com Cristo que ressuscitou e por isso nós ressuscitaremos.

Nós não podemos nos desligar de Cristo, e só a Ele devemos servir. A solução dos nossos problemas está em Nosso Senhor Jesus Cristo.

Alguns ressuscitarão para o prêmio da vida eterna e outros ressuscitarão, mas para a condenação; por isso eu não posso me desligar de Jesus Cristo.

“Eis que vos revelo um mistério: Nem todos morreremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta (porque a trombeta soará). Os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (I Corintios 15, 51).



"Precisamos ser um bom terreno porque o que nos espera é a vida eterna", diz monsenhor Jonas
Foto: Renan Félix

"Nós seremos transformados", quem são esses "nós"? Aqueles que estiverem vivos por ocasião da vinda de Jesus e ligados, unidos e vivendo em Cristo. Veja o importante: "Estão vivendo em Cristo". Daí você percebe: "Ou Jesus vem, ou a gente vai".

A morte está colhendo gente todos os dias. Se você morre, se eu morro unido a Cristo na graça de Deus, vivendo n'Ele, para Ele; se já não estou mais no reino das trevas e sim no reino da luz e deixo que a Palavra de Deus faça efeito na minha vida, perseverando, lutando, nesta luta que não é fácil, principalmente no mundo de hoje, onde nadamos contra a correnteza, como num rio lodoso, se nós morremos ligado a Cristo, com certeza, ressuscitaremos. Se Cristo me encontrar lutando eu ressuscitarei para a vida eterna, para o prêmio eterno e não para a condenação.

Se Jesus vem, ou você é colhido pela morte antes da vinda de Jesus, quem não estiver ligado a Cristo, quem não se deixou arrancar do poder das trevas, como está na Palavra de Deus, a ressurreição será para a condenação.

Você sabe muito bem da razão pela qual o Senhor escolheu você, porque Ele amou você, e não foi para te condenar, mas para que você seja salvo. Porque o Pai não enviou o seu Filho para condenar e sim para salvar.

Para ficar mais claro São Paulo na primeira evangelização que ele fez em Tessalônica, ele já falou da segunda e definitiva vinda de Jesus, "Quando for dado o sinal, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o mesmo Senhor descerá do céu e os que morreram em Cristo ressurgirão primeiro" (I Tessalonicense 4,15).

Irmãos, é uma verdade, está aqui é Palavra de Deus. Essa Palavra de Deus hoje precisa cair no terreno bom e preparado do seu coração, e o diabo não pode arrancar. O fato das suas preocupações do dia a dia, da cobiça, da busca de riquezas não pode abafar a Palavra de Deus. A sua falta de raízes, falta de profundidade de quem leva uma vida cristã de qualquer jeito não pode abafar e deixar perder esta Palavra de Deus.

É certo o Senhor virá. Como eu costumo dizer, se Ele não vier nós iremos, mas tudo indica que a vinda do Senhor não está longe, é só olhar a situação do mundo. Primeiro a devassidão em que o mundo está, parece que a humanidade se pôs contra o seu Deus desobedecendo, e pior ainda, legislando contra a lei de Deus, contra aquilo que ficou claro na Palavra de Deus, e isso acontece em todos os países e já chegou no Brasil. É uma humanidade que se colocou contra o seu Deus, contra o seu Senhor, o seu criador. Isto é um sinal claro que a vinda do Senhor está se aproximando cada vez mais. Hoje mais do que ontem e amanhã mais do que hoje estaremos mais perto da vinda do Senhor. Quando Ele virá nós não sabemos, mas como Ele disse no Evangelho Ele virá como um ladrão quando menos esperarmos. Mas nos diz também no evangelho de São Lucas, para não cairmos no desânimo e não ficarmos assustados, pelo contrário, nos enchermos de esperança porque a nossa salvação está cada vez mais próxima, o que interessa meus irmãos é perseverarmos no Senhor.

"Depois nós, os vivos, os que estiverem ainda na terra, seremos arrebatados juntamente com Ele sobre nuvens ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor". Como nós poderemos ser arrebatados? Como São Paulo explicou: "Num abrir e fechar de olhos receberemos um corpo glorioso".

Eu serei arrebatado ao encontro do Senhor nos ares, para permanecer com Ele para sempre. É por isso que eu e você precisamos levar muito a sério a vida cristã.